Deus está morto?Deus existe?
O Deus que você entende e foi ensinado que existe não passa de uma criação cultural. Por quê?
Devido à complexidade e mesmo assim, de forma resumida, este artigo será dividido em três partes.
É verdadeiramente impossível conceber um Deus que seja simultaneamente Monoteísta e, ao mesmo tempo, Monista, Panteísta, Teísta ou Deísta. Essas categorias são inerentemente contraditórias do ponto de vista lógico e científico.
Esses conceitos não podem coexistir ao mesmo tempo, e não venha com a infantil resposta religiosa de que Deus não pode ser medido, por favor.
É impossível, por exemplo, existir um deus que seja Panteísta e Monoteísta ao mesmo tempo, porque um deus monoteísta — o que você entende como Deus — é bom e mau e está acima de tudo. O panteísta, por outro lado, é indiferente, nem bom nem mau, e está entranhado em tudo, dentro do átomo e fora dele. O monoteísta rege tudo; o panteísta, não.

“A dúvida é o princípio da sabedoria.” – René Descartes
O problema é a cultura e a criação. O ocidental quer um Deus monoteísta para se sentir acolhido, amado, um pai metafísico que cuide dele. O oriental, Panteísta, é diferente; desde que nasce, conhece um deus com o qual precisa lidar, assumindo a responsabilidade por si mesmo. A culpa é dele, não de um deus, e ele tem de se virar sem desculpas, ao contrário da criação do ocidental.
Agora, ao descobrir que esse Deus monoteísta, único pai, pode não existir, o ocidental pode entrar em uma síndrome de abandono, sentindo-se órfão. Nesse nível, a mente ocidental terá dificuldades, mas não será impossível, pois viveu assim até agora.
Friedrich Nietzsche (1844-1900): Filósofo alemão conhecido por sua crítica à religião e ao conceito tradicional de Deus. Ele proclamou a “morte de Deus”, mas por quê?
Para Nietzsche, quando ele compreendeu que Deus não existe, ele “pirou”. Pense comigo: um vegano, ao ver na ceia de Natal o Deus ocidental incentivando o consumo de animais mortos, vê nisso uma aberração e considera esse Deus um demente, algo deformado. Por isso, Nietzsche, que também era vegano, ficou perturbado ao ver um animal, como um cavalo, sendo torturado; ele não suportou essa nossa realidade carnívora e cruel, e para ele esse Deus estava morto. Veja como é simples! E ainda assim, filósofos e estudiosos passaram séculos criando interpretações complexas para explicar o que Nietzsche queria dizer com “Deus está morto”.
Quando você lê “Deus” na Bíblia, logo pensa em um deus único, mas, na verdade, em nenhum lugar da Bíblia — seja no Novo ou no Velho Testamento — se pode extrair esse conceito monoteísta. Jesus e outros personagens bíblicos não pensavam em um Deus único e unificado no sentido monoteísta ocidental. Não é porque você lê “Deus” na Bíblia que ele é o mesmo deus da sua mente; esse entendimento foi doutrinado pela cultura ocidental.
Na verdade, Deus ali é uma energia, uma potência que envolve tudo. Daí Jesus dizer “Eu e o Pai somos um.” Leia a Bíblia pensando em um Deus panteísta — ou até monista, se preferir — mas nunca monoteísta. Esse conceito só aparece nos círculos religiosos de Roma, formatado a partir da visão de um único imperador, daí um único Deus.
O filósofo e historiador francês Ernest Renan é conhecido por sugerir que o verdadeiro monoteísmo como conceito consolidado só surge efetivamente após o século II d.C., principalmente através do cristianismo. Renan argumentava que, embora o judaísmo fosse uma religião monoteísta, sua influência era mais restrita e se tornaria verdadeiramente universal apenas com o desenvolvimento do cristianismo, que difundiu a ideia de um Deus único de forma mais ampla e adaptada para diferentes culturas do Império Romano.

Os primeiros pais da Igreja a argumentarem sobre um Deus monoteísta foram figuras do cristianismo primitivo, como Justino Mártir, Irineu de Lyon e Tertuliano. Eles desenvolveram a ideia de um Deus único e supremo em contraste com as crenças predominantes da época, que eram majoritariamente panteístas, monistas e politeístas. Nesse período, o cristianismo já existia em outras vertentes, como a gnóstica, cujos pensadores e filósofos defendiam uma ideia de Deus como uma Mente Cósmica, que poderia ser una ou não.
Foi só após mais de cem anos que o conceito de um Deus monoteísta começou a ser amplamente promovido. A intenção era incutir na mente das pessoas a ideia de um único Deus, assim como o Império Romano tinha um único imperador. Esses primeiros teólogos se beneficiaram de um sistema já em andamento e apenas ditaram regras. Afinal, eles eram bispos de Roma, politicamente votados e influentes, com igrejas que possuíam certo poder. Podemos fazer um paralelo com pastores políticos de hoje que influenciam a população em questões políticas, mesmo de maneira sutil ou subversiva.
Enquanto isso, pensadores que propunham uma visão de Deus diferente foram perseguidos, muitos deles mortos, e seus ensinamentos destruídos. Se você pensa que o ambiente era laico e democrático, está enganado. Esse é o erro dos que observam aquele mundo com os olhos do nosso tempo, uma falha comum entre muitos teólogos e religiosos ocidentais.
Ernest Renan acreditava que, antes disso, a crença em um Deus único, de forma incipiente, ainda coexistia com práticas e crenças politeístas. Mas é importante entender que o conceito de Deus único, para eles, era regional e não planetário, como temos hoje. Eles pensavam em Deus, seja qual fosse, como um deus regional — o Deus de Israel dominava Jerusalém, e assim por diante.
Foi apenas com a expansão do cristianismo que a ideia de monoteísmo se consolidou de forma dominante no Ocidente, sendo posteriormente esse Deus considerado planetário por interesses políticos e crenças religiosas. Além disso, a arqueologia prova que, quando um povo ou região era conquistado, as imagens de seus deuses eram levadas e “acorrentadas” no solo do conquistador. Por exemplo, o Deus que temos em mente hoje tinha, no período pré-exílio judaico, representações em pedra e imagens como um touro guerreiro da tribo dos judaítas. Isso é confirmado pela historiografia e pela arqueologia; não é achismo.
As pessoas acreditam que esse Deus tem um plano para tudo. Vá dizer isso a um pai que perdeu a filha para estupradores brutais — seres que, ao se “arrependerem”, logo estão pregando esse mesmo Deus. Muitos pastores hoje, semianalfabetos e recrutados da sarjeta emocional e intelectual, se dizem novas pessoas e sobrevivem às custas das igrejas e do evangelismo dito cristão. Eles vão negar isso, mas investigue e verá o que digo.
Sempre dizem que Deus é insondável e foram perdoados, mas não, jamais! E respondem, tentando justificar que estamos dentro do plano de Deus e, de dentro, não podemos ver os 360 graus.
No entanto, a pergunta está errada; não é sobre o plano, mas sobre que Deus é esse? Isso muda tudo, e você vai entender o porquê. Acima, te dei cinco conceitos de Deus. Existem muitos mais, e nenhum deles pode ser concebido junto com outro. Podem, de forma inusitada, ser combinados, criando conceitos como o panenteísmo — uma junção entre panteísmo e teísmo. Esse conceito, que surgiu devido à evolução de certas igrejas pentecostais, é uma bagunça teológica, mas se limita a essa fusão e não pode ser expandido ou reagrupado a outros conceitos. Escolha um e descarte os outros; isso é lógica.
Em milhares de povos até hoje, cada cultura tinha sua visão de Deus. Só a ocidental tem o monoteísmo, um Deus antropomórfico, uma ignorância sem tamanho:
A partir de agora, esforce-se para não ver o Deus dos religiosos, políticos e de todos que pregam essa anomalia que dizem ser Deus. Olhe para o outro lado que lhe indicarei, e terá as respostas, são tão simples, nada de paradoxal.
Mas O Que Realmente Um Deus Verdadeiro Irá Querer?
O que o Deus cristão espera do seu fiel servo humano? Que ele tenha bons carros, uma casa, saúde e seja próspero? Isso é política ou algo mais? Veja o que se prega nas igrejas. Há alguns anos, no Brasil, surgiu uma onda de pregadores e evangelistas em presídios, chamada de “Cruzada Evangelística”. Houve uma conversão em massa, e centenas, até milhares de presidiários se transformaram em pastores e leigos, ditando a religião. Muitos deles eram semi-analfabetos, e hoje seus descendentes estão nas igrejas, enquanto pessoas mais cultas também seguem essa doutrina.
Um Deus coerente só deseja uma coisa: que a criatura, no nosso caso, evolua. Pensando em um Deus panteísta e monista, podemos afirmar que Ele nos concedeu essa energia única, o Atman, proporcionando a oportunidade de cumprir ciclos de vida e encerrar as fases da busca pela evolução humana, tanto espiritual quanto pessoal.
A jornada da vida está associada a sete ciclos, do nascimento até a morte. A astrologia calcula essa jornada em 120 anos, assim como o Prêmio Nobel Jean-Pierre Changeux, um neurobiologista francês. Esses ciclos são conhecidos como setênios. Apresento aqui um breve resumo do que isso significa e do que é esse Deus formado de energia em nós, que tem o poder de nos levar a cumprir esses ciclos, diferente do Deus dos religiosos que nos deixam dependentes deles. Cumprindo esses ciclos, seremos deuses em evolução.
Você pode me perguntar se Jesus cumpriu esses ciclos, independentemente da idade em que morreu. Sim, ele cumpriu, tenha vivido até os 120 anos ou não. Isso não importa porque a teologia fundamentalista lê o mito de forma literal, o que é ridículo, não é? Ele não morreu aos 33 anos. Segundo a historiografia, ele sequer foi crucificado, embora possa ter vivido esse tempo ou muitos mais anos. No entanto, isso é para outro momento. A Bíblia é mito; lembre-se.

Rompendo Fronteiras: A Complexidade Inexplorada dos Ciclos Existenciais.
“Questionar é a essência do conhecimento.” – Francis Bacon
Segundo esse conceito, todos os seres humanos devem cumprir, de forma completa e decente, sua missão, morrendo porque realizaram o que nasceram para fazer e completaram os sete ciclos de vida. Assim, a morte seria apenas uma fase, da mesma forma que os orientais espiritualistas encaram a morte como o último ciclo a ser cumprido, e nada mais, fazendo a passagem tranquilamente.
No entanto, o que vemos são espiritualistas e a utopia das religiões ocidentais, ridiculamente definindo a morte como um momento de desespero. Muitas vezes, parecem crianças acuadas em leitos, e pior, transbordando desconexão, pois estão surpresas; vivem eternamente na mente, mas seu Deus não as responde. Observamos pessoas em geral morrendo como cachorrinhos moribundos, chorando e não desejando a morte, querendo viver mais — isso é o ocidente.
Vemos idosos moribundos que morrem sem ter cumprido sequer o quarto ciclo, repletos de crises de identidade. Nunca amadurecem; apenas envelhecem. Shakespeare expressa essa ideia em Hamlet, quando o bobo da corte, ou “gravedigger”, menciona que o rei ficou velho. Embora não seja exatamente a frase citada, a essência está relacionada ao diálogo que ocorre na cena 1 do Ato 5.
O bobo da corte representa o arquétipo do Louco no tarô, e, para entender essa carta, é fundamental conhecer os conceitos do caminho da Cabala cristã, que estão prefigurados no tarô. Para obter um entendimento mais profundo dessa ciência — e não da ideologia infantil e vulgar de adivinhação amplamente disseminada, onde jovens ou esotéricos excêntricos afirmam ditar o destino consultando arquétipos — recomendo minha trilogia de livros sobre tarô disponível na Amazon.
As pessoas, observando os ciclos de sete anos, vivem e morrem sem nunca avançar nesses ciclos, permanecendo mental e emocionalmente presas à adolescência. Um exemplo disso é a peça shakespeariana que ilustra a evolução mental da humanidade, utilizando a Cabala e o setênio como base.
Espiritualmente, nem sequer entraram de fato nesse ciclo, e por isso não conseguem quebrar esse quarto ciclo, onde apenas crescem fisicamente. Envelhecem e morrem com seu Deus de fantasia, que deveria ensiná-los a morrer, mas não aprenderam. Vivem uma vida de adolescentes, sentindo-se abandonados e esquecidos por algo metafísico, um pai que lhes passa a vida a debater o porquê de tudo, enquanto amam o mundo e suas ilusões. Esse é o pior ciclo a ser quebrado e depende de uma mente e de um Deus forte.
O Deus que você conhece tem fundamental influência nesse quebra-ciclo. Mesmo que não exista, é um Deus fraco, ligado a religiões e ao emocionalismo; na verdade, é um Deus que não passa disso: apenas emoções e dependência das outras pessoas dizerem o que é certo e errado para você. Incrível, não? O Deus que você conhece nunca deixará a pessoa passar de ciclo.
Somente com um Deus apático, não dual e que não permite que as emoções influenciem, e que coloca a responsabilidade nas costas de quem vive, mostrando que a responsabilidade pelas consequências é sua, tem poder para ajudar a pessoa a quebrar esses sete ciclos e vencer a morte, assim como diz o apóstolo Paulo.
O Deus que diz que a culpa é de outro não assume a responsabilidade; ela é nossa. Esse Deus não dual nos dá consciência para evoluir. Não é morrendo e reencarnando, como os espíritas dizem, que se evolui; a responsabilidade é aqui, não em outras vidas. Esse Deus emocionalista, romantizado e dos religiosos cristãos e espíritas é monoteísta, e por isso ele te prende à sua dependência e, por consequência, ao líder religioso. Esse pensamento de evoluir em outra vida é ridículo. A responsabilidade é sua.
Pense em culturas indígenas que abordam a ascensão nas fases da vida. Elas passam por testes mentais para a vida adulta, e uma pessoa que sofre, entende e absorve isso muda sua direção diante dos obstáculos naturais. Usam símbolos de guerreiros para ilustrar isso. No entanto, o ocidental sempre vive como se fosse uma criança mimada, chorando pela despedida. Se tivessem cumprido até o último ciclo, com certeza morreriam em paz, como aqueles que viveram e “combateram o bom combate”.
O desafio reside especialmente no setênio mais desafiador de todos: o que marca dos 21 aos 28 anos. A persistência de comportamentos adolescentes em pessoas mais velhas é comum, e muitos acham isso atraente. Um exemplo são os religiosos que passam a vida em igrejas, pulando e agindo como adolescentes. Já viu quantos velhos babões na internet pulam e fazem dancinhas? E isso é atrativo! Eles não usam isso como isca digital; o que fazem é por diversão infantil, mas, de fato, deveriam ser adultos desbravando o conhecimento e buscando expansão mental.
Em particular, é crucial superar a chamada “síndrome do filho adotado” neste setênio, liberando-se dos pais é crucial, mas os atuais adultos todos estão presos a este setênio porque veem em Deus um pai metafísico, como um pai consolador e pronto a ajudar.
A decepção com Deus se torna evidente quando pessoas correm até esse Deus nas ruas e não são atendidas, levando-as à revolta.
Evoluir na visão religiosa é coisa infantil, como seus ensinos e doutrinas; é besteira nesse sentido. No entanto, buscar a evolução cumprindo os setênios, os sete ciclos aos quais nascemos para viver, responde à pergunta do porquê estamos aqui e qual o sentido da vida.
Vencer esse setênio requer compreensão, crescimento real e uma profunda aprendizagem sobre a verdadeira natureza de Deus “monista panteista”.
Um exemplo é ver o americano sair de casa, se libertar da segurança dos pais e conquistar suas vidas. Assim, devemos, em relação a esse Deus, seguir um caminho semelhante.
Pela lógica, e por ter de ser cumprido esse setênio, provo que esse Deus monoteísta não existe; ele é uma imagem, uma sensação de segurança paterna, e só. É algo criado por volta do ano 200 d.C. para dar conforto e soluções, assim como um rei deve fazer por seus súditos.
Até então, do terceiro século até o fim do capitalismo, esse Deus monoteísta era visto como certo, benevolente, cruel, amigo e senhor de tudo e de todos, sendo o único arquétipo de amor e vingança bem-sucedida. Ele é amor fiel, mas somente se você o servisse ou à sua igreja, seja católica ou protestante. Isso está no subconsciente coletivo, implantado pela mídia, pelos pais e por tudo que se vê e ouve.
Com ele, conquistava-se vitórias, pois é lido no Velho Testamento como guerreiro e vitorioso; ele é quem escreve a história do mundo antigo, mesmo que seus servos judeus tenham sido derrotados e mortos. Ele se levanta na forma cristã, sendo sempre o vencedor, carregando essa egregora em si, impregnando as mentes do coletivo com uma literatura forjada pela teologia, que deu origem a conceitos como iluminismo, fundamentalismo e escolástica, tudo para dar base ao seu poder.
Até uma padaria usava ele como referência; isso não sai fácil do inconsciente coletivo, imagine a nível pessoal. Não existiu nada melhor para o Ocidente, que o abraça; afinal, cresceu pela matança e tortura, veja os Estados Unidos. Ele é o arquétipo das guerras que são travadas, usando sua imagem metafísica de poder e vitória. Hoje, cada pessoa utiliza isso para suas próprias guerras, tanto nas igrejas quanto no dia a dia, que se encaixam como luvas nesse Deus, tornando tão difícil se libertar dele.

Como esse Deus único e monoteísta foi criado e por quê?
Pense assim: até o segundo século, não existiam religiões ou igrejas convencionais. Em vez disso, havia muitos grupos espalhados pela região da Pérsia, como os seguidores do discípulo Tomé que, após a morte do líder Jesus, se refugiaram em Edessa. Também conhecida como Urfa ou Şanlıurfa, essa é uma cidade histórica situada atualmente no sudeste da Turquia.
Esses grupos não eram coesos e não pensavam em um Deus único monoteísta, ao contrário do que projetamos ao olhar para aquele mundo com olhos construídos pelos teólogos e religiosos. Só vemos o Deus deles, mas não era assim. Lemos a Bíblia como um romance e como se fosse um filme aos olhos modernos, e queremos descrever isso. Isso é retroprojeção cultural; ou seja, imaginamos nossa própria posição mental e olhamos aquele mundo lendo algo apático a ele, com a mente sobreposta na nossa realidade.
Eles não viam um Deus monoteísta, mas passaram a ver, após os anos 200 d.C., um Deus segundo a imagem lógica do Império Romano — um imperador, um Deus. Isso foi fundamental para a conquista de outros povos sob a crença romana e imperial, e teísta, único na figura do imperador de Roma.
O Deus dos judeus era o templo, onde se praticava a monolatria em sacrifício ao Deus templo. Aceitavam o politeísmo e não a polilatria. Daí não se pode dizer que eram monoteístas; pelo contrário, consideravam apenas um deus, o templo, e os outros deuses se curvavam a ele.
Apesar de aceitarem o polilatria, os judeus praticavam a politeísmo nas aldeias e a monolatria no templo, onde o único Deus aceito era o deus da guerra, conhecido simplesmente como “Deus” ou pelo tetragrama “Yahweh” (יהוה). Antes do cativeiro babilônico, a religião judaica era bem diferente, com muitos dos textos sendo produzidos após o exílio, por volta de 570 a.C. Nesse período, toda a literatura sagrada foi desenvolvida, e Yahweh era representado de forma visual — pasme, o deus judeu-cristão tinha uma imagem! Embora mais tarde essa prática fosse proibida, a arqueologia e a historiografia provam que a representação era a de um touro.

Escavações em Kuntillet Ajrud: inscrições e imagens revelam a frase “Yahweh de Samaria e sua Asherah”, indicando um sincretismo entre Yahweh e outras práticas religiosas locais. Esse dado mostra que o deus que muitos hoje associam ao monoteísmo judaico possuía, naquela época, uma relação com uma figura feminina, Asherah, que era venerada como uma deusa ou consorte de Yahweh.
Esse conhecimento oferece uma perspectiva libertadora, pois revela que as práticas e crenças originais em torno de Yahweh eram mais complexas e diversificadas do que os religiosos modernos muitas vezes admitem. Muitos judeus nos tempos de Jesus discordavam dessas interpretações, o que contribuiu para disputas religiosas sobre a verdadeira natureza de Yahweh e seu culto, destacando que o conceito de um Deus monoteísta absoluto só se consolidou posteriormente.
Dessa forma, esse Deus foi projetado pela igreja que emergia no século 200 depois de Jesus morrer, construindo sua política com base nessa visão romana de um único e antropomorfo deus encarnado, assim como o imperador, ao qual existia o culto.
Tanto é que se diz “Igreja Católica ou Universal Romana”, fundada e criada ali. Daí a referência de um Deus único sendo o imperador, em um único império, uma única igreja.
Esse império dominava o mundo, tanto dos bárbaros como dos romanos, abrangendo cerca de 5 milhões de pessoas. Se a igreja da época não forjasse esse conceito de Deus único em 325, ela não poderia ser enquadrada nos moldes do império. Como disse, um único Deus, um único império, uma única igreja.
Por isso, as igrejas formadas em outros lugares viam um Deus diferente do de Roma, e Roma, por conta disso, destruiu Alexandria e Edessa, um dos berços da gnose (γνῶσις) e seus seguidores. Um bispo foi enviado para lá com o objetivo de eliminar a memória e os textos de Tomé, e com isso o cristianismo gnóstico de base filosófica foi suprimido — afinal, era de difícil entendimento e desgastante devido à necessidade de estudo. A igreja preferia seguidores incultos e ignorantes para moldar suas mentes e dominar suas vidas.
Os primeiros e verdadeiros seguidores de Jesus foram incontestavelmente cristãos da gnose, e criaram seus livros hoje descobertos em achados arqueológicos intactos.
Têm em seu portfólio livros mais antigos do que os textos da sua Bíblia. Nenhum texto do Novo Testamento é de autoria de discípulo, mas apenas autenticação ou autointitulação. Os mais antigos, como o Evangelho ou Ditos de Tomé, falam de um Jesus-avatar.

Os evangelhos gnósticos, ou da gnose, adoravam e tratavam como divindade, assim como todos no mundo antes do ano 320 d.C., um Deus panteísta e monista. Havia muitas comunidades, mas aquelas vindas do império fundamentalista as eliminaram com violência brutal, chantagem e repressão.
Esse Deus monoteísta, que séculos depois também adquiriu características teístas e foi revestido com elementos do neoplatonismo e da identidade judaica sob a influência da monolatria do templo de Jerusalém, foi construído aos poucos ao longo dos concílios e da vivência e pregações religiosas. Não foi algo instantâneo, como se costuma acreditar; utilizaram a estrutura e a imagem do Império Romano, com Jesus como o imperador, Roma como o modelo, o único império, o único reino divino, e o único Deus.
Textos míticos como os Atos dos Apóstolos foram adaptados para sedimentar isso tudo, forjado entre os anos 100 depois de Jesus e 325, até o primeiro concílio de Niceia, quando foi finalmente incorporado, definido e criado com vestimentas metafísicas neoplatônicas.
Esse Deus foi criado para uma visão monoteísta teísta, ou seja, como um ser antropomórfico ou a ideia de um ente, a partir da visão imperialista. Surge um Ser que tem poder sobre tudo e é inalcançável, apenas por sua corte, um imperador romano.
Daí surge essa visão no mundo antigo, quando o monoteísmo começa a ganhar forma e se estabelece. No templo judaico, fala-se de um Deus chamado Elohim, mas também havia alguns judeus rebeldes que ensinavam a Cabala e abordavam um conceito além do deus criador, o Deus-potência, conhecido como Ein Sof (אין סוף). Essa complexidade persiste até hoje na Cabala, que inclui diferentes entendimentos sobre o Deus judaico da época. Temos expoentes desse pensamento entre os judeus de Alexandria, como o filósofo Filon, que apresenta esse deus como o Logos (Λόγος).
Naquela época, o neoplatonismo estava em ascensão, com pensadores importantes como Plotino e seus discípulos, e também a visão imperial, onde Marco Aurélio, o último imperador-filósofo, impôs o estoicismo. Temos até seus 12 livros, o mais conhecido sendo “Meditações”, onde o conceito estoico é baseado, com certeza, no neoplatonismo.
Para reforçar meu argumento, faça uma experiência e comprove por si mesmo que muitos cristãos modernos e até mesmo judeus sequer compreendem verdadeiramente seu próprio Deus. Pergunte a pastores, rabinos, padres ou líderes espíritas uma simples questão, e logo eles responderão com argumentos frágeis e voláteis, sem base sólida, afirmando que Deus é incompreensível, inexplicável e indefinível.
É fácil dizer isso, não é? Somente alguém desqualificado em sua área daria esse tipo de resposta. Pergunte a eles: “Explique-me o Deus monoteísta, o único Deus.” Eles não sabem, mas esse Deus foi moldado sob a influência do neoplatonismo, emergindo de correntes como o epicurismo e o estoicismo. Ao observar o templo judaico monolátrico, fica claro o quão difícil é explicar essa construção.
E como não temos uma explicação racional de Deus do mundo da época, podemos “vestir” o Deus da Bíblia como quisermos. Assim, muitos interpretam a Bíblia de forma a enxergar uma construção teológica feita duzentos anos depois de Jesus — mas isso não está lá; lemos, por incrível que pareça, múltiplos conceitos de Deus ao mesmo tempo. Esse fenômeno ocorre diariamente nas igrejas, mesmo quando os conceitos são paradoxais.
Por isso, a mente dos religiosos fica tão confusa. Um exemplo típico: um pastor pode pregar sobre um Deus panteísta, e ao mesmo tempo, um Deus panenteísta, conceitos que se aproximam e, em certo ponto, se confundem. A teologia católica, por exemplo, tende ao “teísmo aberto,” enquanto o protestantismo costuma ser mais fechado, e o pentecostalismo reúne tudo isso em um pacote, ignorando as inconsistências. Esse malabarismo acaba sobrecarregando e confundindo ainda mais a mente dos fiéis. São pensamentos que acabam criando uma profunda confusão filosófica em um único texto.
Assim, qualquer conceito de Deus pode ser lido na Bíblia: basta escolher um e reajustar as ideias, criando uma verdadeira aberração filosófica incongruente. Eles leem Deus como querem na Bíblia. E se digo que isso resulta em uma aberração, o que seria, então? Um monstro frankensteiniano? Algo montado com conceitos paradoxais?

Pense assim: um pastor pregando sobre Deus fala de um Deus panteísta e logo emenda com um panenteísta. Em seguida, menciona o teísmo clássico e, ao longo do discurso, fala sobre o Deus do teísmo aberto, fazendo uma conexão com o monoteísmo. A cabeça dele é como uma fossa séptica cheia de conceitos teológicos misturados e dejetos éticos que ele nem avalia ou sabe o que de fato são.
Pastores e líderes religiosos, de qualquer crença, são movidos por uma moral confusa. Pregam e acabam atraindo adeptos e discípulos que se deixam influenciar por seu discurso distópico e imaturo. Isso serve apenas para atrair mais pessoas religiosas, que se contaminam a cada fim de semana com essas ideias contraditórias. No final, todos saem com a mente ainda mais confusa e atordoada. É por isso que, quando questionados, poucos conseguem oferecer respostas coerentes.
Mas o que ocorreu de fato com os verdadeiros e primeiros discípulos de Jesus, como Μαρκίων (pronunciado “Markíon”), e com toda a magnífica Alexandria hermética cristã da época, que possuía um panteísmo platônico, de certo modo de origem hinduísta vedanta? Por serem mais didáticos e filosóficos, de difícil seguimento, foram perseguidos e mortos.
Os discípulos deram uma leitura para esse panteísmo e criaram o monista panteísta, um Deus aos moldes dos ofitas “φιταί”, os seguidores da serpente, ou seja, Jesus. Um exemplo disso é o Evangelho de Tomé, na verdade, ditos atribuídos a Tomé ou Judas.
Evangelho de Tomé 22: “Disse Jesus: ‘Quando você faz do exterior, o interior se tornará interior; e o que você faz no interior se tornará o exterior.’”
“Ἐρρέθη ὁ Ἰησοῦς· Ὅταν ἐκ τῶν ἔξωθεν ποιῆτε, ὁ ἐντὸς ὑμῶν ἔσται ἐντός· καὶ ὃ ἐκ τῶν ἔνδον ποιῆτε, ὁ ἔξωθεν ἔσται ἔξω.”
ἐκ τῶν ἔξωθεν” (do exterior): Refere-se às ações ou práticas que emanam de fontes externas, como influências sociais, convenções culturais ou normas religiosas.
“ὁ ἐντὸς ὑμῶν” (o interior de vocês): Representa a dimensão interna do ser. Em meu livro, discuto sobre mundos paralelos, onde coexistem os reflexos dos nossos sete corpos.
“ὃ ἐκ τῶν ἔνδον” (o que vem do interior): Sugere que as ações e pensamentos que se originam no interior têm um impacto direto e significativo sobre a realidade externa.
Desvendar essa frase em uma língua morta é complexo; demanda um rio que corre para o mar de experiências e estudos ao longo de uma vida. É óbvio que envolve compreender o mito, que não é nada do que os acadêmicos modernos tentam explicar como sendo apenas uma historinha. O mito fala com a alma; não é uma mera lenda, como querem defender os pseudocientistas.
Como exemplo, apenas para demonstração, apresento agora a gematria da expressão grega “ἐκ τῶν ἔξωθεν” (ek tôn exōthen). Para calcular a numerologia ou gematria dessa expressão, precisamos considerar o valor numérico de cada letra. No mundo antigo, havia mensagens ocultas em abundância, e nada do que está escrito é o que realmente se deseja transmitir. Eles utilizavam a gematria, uma ciência básica da Cabala. A seguir, um exemplo simples disso. Aqui está a tabela de valores para o alfabeto grego:
- ἔ (epsilon) = 5
- κ (kappa) = 20
- τ (tau) = 300 -ῶ (omicron) = 70
- ν (nu) = 50
- ἔ (epsilon) = 5
- ξ (xi) = 60
- ῶ (omicron) = 70
- θ (theta) = 9
- ε (epsilon) = 5
- ν (nu) = 50
Agora, somamos os valores das letras:
- ἐκ (ek):
- ἔ (5) + κ (20) = 25
- τῶν (tôn):
- τ (300) + ῶ (70) + ν (50) = 420
- ἔξωθεν (exōthen):
- ἔ (5) + ξ (60) + ω (70) + θ (9) + ε (5) + ν (50) = 199
Agora, somamos os valores de cada parte:
- Total = 25 (ek) + 420 (tôn) + 199 (exōthen) = 644
Portanto, o valor total da expressão “ἐκ τῶν ἔξωθεν” na gematria é 644.
Concluo apresentando este exemplo para entender a complexidade das mensagens daquele mundo.
Simplificando, ao usar o número ou a expressão somados, 644, que está codificada, poderíamos inserir outras palavras ou expressões dentro desse mesmo trecho, que também, somadas, teriam o mesmo valor, nesse caso, 644. Isso revelaria outras ideias ou expressões, mas não alteraria o sentido numérico, pois, como já disse, os textos não eram escritos para serem lidos, mas somente recitados.
Seriam, na verdade, uma chave a ser girada para que obtivéssemos outras mensagens codificadas, muitas vezes mais importantes que a primária e relacionadas a ela. Essas palavras ou expressões poderiam ser substituídas sem alterar o sentido original.
No entanto, essa troca traria novas mensagens subliminares que ocultam a verdadeira e segunda mensagem.
Viu como fica difícil só ler “Deus” (Θεός) e pensar na sua visão de Deus? E o pior: as traduções que, no original, não têm a palavra ou expressão “theos” (Θεός) não trazem nada ali. No entanto, o tradutor, achando que está certo e que isso faz sentido, coloca “Deus” apenas porque acredita que deveria. Coloquei o exemplo acima para mostrar como a tradução da sua visão bíblica de Deus é mequetrefe, e o tradutor insere “Deus” onde esse conceito nunca deveria existir. Imagine o resto das aberrações. Que show da Xuxa é esse?
Resumindo essa primeira parte: as pessoas acreditam que Deus é movido por emoções como nós e, por isso, acham que Ele tem preferências por uns e rejeita outros. Mas não é assim. Ele seria uma espécie de consciência cósmica, contida em tudo e em todos, como uma luz divina que dá vida e tem o potencial de elevar a alma. Deus não possui emoções como as entendemos, que são características da matéria, do cérebro e do corpo biológico.
Cabe à consciência expandida e à mente evoluída saber diferenciar razão e emoção. Deus possui algo semelhante a emoções, mas estas são hipersensíveis a um nível que não refletem um “eu” individual, algo que o ser humano frequentemente confunde.
Nós, como almas conscientes, temos o dever de aprender, entender e conhecer como Ele funciona, assim como o universo ao nosso redor, e utilizá-Lo com sabedoria. Deus deve ser compreendido e integrado, não adorado de forma cega, mas utilizado, pois Ele se entrega para isso.
Deus é essa mente que permeia todos os incontáveis universos, e não uma imagem física com sentimentos e predileções. Religiões dizem: “Deus me ama.” Mas, na verdade, somos nós que precisamos aprender a nos amar!
Continua…

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