Livre arbítrio? Destino? Predestinação?

Eu faço o que quero; ninguém diz o que posso ou não fazer. Escolho meu destino, crio minha realidade, exceto quando isso é imoral, ilegal ou pode prejudicar outra pessoa em seus direitos.

“O destino é o que baralha as cartas, mas somos nós que jogamos.” – Arthur Schopenhauer.

Se tomo decisões sempre movido pela ética, e todos nós, querendo ou não, respeitamos e obedecemos à ética imposta pelo meio. Até mesmo os marginais, se pensar bem, são aqueles que mais a seguem. E, certamente, todos valorizamos a autenticidade, a independência e a busca da virtude.

Considerando Diógenes de Sínope, contemporâneo a Sócrates e cínico, e a ética (“ēthikē” (ἠθική)), ele conceitua que a ética não pode ser movida por escolha, por ser uma força latente, vibrante, real e estar viva como uma mente consciente em prol do caos se organizar.

Ela não é um conceito, uma ideia, um arquétipo ou uma expressão que dá sentido a ações humanas ou ideias; é, sim, uma potência e energia incompreensível, mas viva literalmente. E, por ser assim, tem cuidadores, seres a manterem agindo em curso, e ela age dentro da espécie de cada tipo de pessoa.

O que faço, então, o faço sem uma liberdade e pseudo livre escolhas. Sendo assim, pense: não há escolhas de fato, e não posso, de fato, fazer o que queria.

Dessa forma, não tive livre arbítrio; um marginal não faz o que quer, faz movido pelo contexto em que vive, seja ele pastor, político, ou um mero assassino à ponta da flexa. Não é verdade, mas vamos desbravar esse assunto.

“Escolhas, no fim de tudo, determinaram nosso livre arbítrio e nosso destino”-mestre Aquila.

Eleição? Predestinação? Livre arbítrio? Destino? Os conceitos ocidentais e o karma hindu são princípios únicos, mas, embora distintos, convergem e se entrelaçam na mesma essência. São essencialmente a mesma coisa, manifestada em diferentes mundos e culturas.

“Eleição no Ocidente, karma no Oriente – diferentes caminhos, mesma jornada cósmica.”-Mestre Aquila.

Eu faço o que quero, vou para onde quero; esse é o significado de livre arbítrio?

Mas imagine que está numa encruzilhada com várias estradas e pode escolher qualquer uma. No entanto, não pode criar uma nova estrada, o que simbolizaria o livre arbítrio.

Esse foi o dilema de Alice no País das Maravilhas quando pergunta para onde essa estrada vai dar; daí o gato, o regente do destino, diz: “Para quem não sabe onde ir, qualquer caminho serve.

Não podemos  criar algo onde não existe uma opção que não foi concedida. Só trilhamos o que foi concedido, daí não tivemos livre arbítrio, mas sim livre escolha. Há, para calvinistas, livre agência; esse tema é tratado há séculos e não é algo especulativo contemporâneo, como se acredita.

Será que estou cumprindo meu destino? Será que existe algo inevitável que não posso evitar, e minha vida não poderia ser mudada?

Se isso for real, não tenho poder sobre minha própria existência. Esse é o medo do ocidental, que se considera livre, mas talvez seja livre apenas na mente.

Será que moldo meu destino, e Deus tem alguma influência nisso? Afinal, Deus existe? São tantas perguntas, e eu lhe pergunto, já ouviu falar sobre o “Eterno Retorno”, filosofado por Nietzsche?

Para Além do Tempo: Desdobramentos do Eterno Retorno na Filosofia de Nietzsche.

“O homem está condenado a ser livre; porque, uma vez lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz.”- Albert Camus

Dá a impressão de que a citação de Camus é paradoxal ao ideal de destino, mas não é. A nossa abertura intelectual é limitada pela ignorância, e muitas vezes não temos o raciocínio adequado para lidar com pensadores como ele.

O eterno retorno é a ideia de que a vida que você viveu será vivida por você de novo, e inúmeras vezes mais. E não há nada de novo nisso, mas é assim que você alcança a verdadeira liberdade: ao abraçar cada momento como se fosse eterno.” – Friedrich Nietzsche

O livre arbítrio só pode ser conquistado através da perspectiva do eterno retorno, uma ideia que Nietzsche extrai dos pré-socráticos e dos Vedantas hindus. Mas antes, no mínimo, temos de ter a compreensão de qual o sentido da vida.

Seremos verdadeiramente livres somente ao conquistar o livre arbítrio; não é uma opção, mas um direito a ser conquistado. A visão de simplesmente escolher não comer carne, por exemplo, e optar por vegetais representa uma visão infantil da livre arbítrio.

A visão calvinista é frequentemente considerada por aqueles que são menos familiarizados com o conhecimento teológico. O cerne da teologia reformada calvinista, sem dúvida, gira em torno da eleição e predestinação, que questiona de fato o livre arbítrio.

Sei que já assistiu a filmes em que um dia se repete infinitamente, e há muitos filmes sobre isso. Essa ideia está embasada na filosofia niilista de Nietzsche.

O niilismo é a filosofia que nega valores fundamentais na vida. Friedrich Nietzsche expressou isso ao declarar: “Deus está morto, e nós o matamos.”

No tempo desse dia repetido, conhecemos detalhes que jamais sonhamos ver em um dia comum: pessoas, hábitos, milhões de variantes para um mesmo evento, o desdobramento presenciado pelo observador da teoria do caos.

Isso seria cansativo, inevitável, uma prisão que se transforma e causa sofrimento. Você vai querer se eximir, e está nos filmes; o suicídio adquire a perda do medo da morte e toma consciência de que não foge dessa prisão, só morrendo.

Para fugir dessa prisão, que, de fato, é aqui, temos que cumprir nosso destino, e daí não podemos ser verdadeiramente livres. Mas não adianta; isso é nossa realidade. Daí surge o conceito de destino e livre arbítrio.

Filmes: Feitiço do Tempo (Groundhog Day) – 1993.No Limite do Amanhã (Edge of Tomorrow) – 2014.Antes que Eu Vá (Before I Fall) – 2017. Feliz Aniversário de Morte (Happy Death Day) – 2017.Palm Springs – 2020

A ideia do filme é que, ao ter esse tempo infinito, é possível moldar escolhas e cumprir a vida que nasceu para ter, realizando efetivamente o seu destino.

No entanto, esse tempo é ilustrado por Nietzsche como reencarnações, mas não pense na ideia Kardecista, romanceada e infantil, e sim na ideia platônica. Nietzsche tem sua filosofia baseada em pré-socráticos, e estes trazem o conceito de metempsicose, a transmigração da alma.

Vou ser mais claro sobre essa ideia de destino, voltar no tempo e reviver o mesmo dia para corrigir erros.

A ideia é a seguinte: imagine que você, e todos nós, temos arrependimentos. Não passou tempo suficiente com seus filhos, sua mãe, seu pai ou seu grande amor. Não disse o que pensava, não expressou seu amor.

Agora, esqueça bens, poder e dinheiro. Imagine que você tem a chance de voltar no tempo, ver essa pessoa novamente, dizer o que sente, abraçar, beijar e falar do fundo da sua alma. E isso implica em descobrir o que é a solidão verdadeira.

É sobre isso, o destino, o eterno retorno. Esse seria o livre arbítrio: ter as inúmeras vidas para reparar o destino que, por ambição, desejo e pressa, deixamos de viver e atropelamos. Reparar arrependimentos é ter poder sobre o arbítrio.

A grande encruzilhada do cristianismo reside na eleição, predestinação e no livre arbítrio.

“Não posso aceitar a ideia de um Deus que escolhe deliberadamente alguns para a salvação e outros para a condenação” -teólogo e escritor arminiano Roger E. Olson.

Enquanto os católicos observam em silêncio, os pentecostais e reformadores erguem a bandeira dessa batalha teológica com rancor e ira

“Eleição e karma, fios distintos de um mesmo tecido cósmico em culturas diversas.”- Mestre aquila

Um juiz só pode aplicar leis que existam; não pode criá-las conforme seu desejo. Dessa forma, ele não pode arbitrar a partir de sua própria vontade, o que implica que não possui livre arbítrio nesse contexto.

Da mesma forma, em relação às causas, não temos verdadeiro livre arbítrio sobre as opções, mas sim fazemos uso daquelas que estão disponíveis. Assim, o livre arbítrio não é verdadeiramente livre; é uma decisão condicionada e dependente de circunstâncias.

Mas o ocidental frequentemente se sente especial, melhor que os outros, e é individualista. Isso cria uma sensação de superioridade, moldando a cultura ocidental.

Essa mentalidade de eleição, de ser superior, muitas vezes se reflete na interpretação de textos, como na Carta do Apóstolo Paulo aos Efésios. Por exemplo, em Efésios 1:4, os grupos evangélicos se identificam como a pessoa especial mencionada pelo apóstolo.

Esse sentimento moldou a cultura ocidental e contribuiu para a visão de superioridade individual, desencadeando, ao longo dos séculos, debates sobre livre arbítrio, eleição e predestinação.

Predestinação, livre arbítrio, eleição calvinista e destino se misturam na trama da vida, onde cada escolha se desenha nos desígnios já traçados.

“Em meio à escuridão da depravação humana, vislumbramos a luz da eleição graciosa, onde Deus, em Sua misericórdia incompreensível, escolheu um povo para Salvação.” – Charles Spurgeon.

Charles Spurgeon, conhecido como o “príncipe dos pregadores”, é um ícone da eleição e predestinação. Ele encantou o mundo com suas mensagens calvinistas e elitistas.

Assim como milhares por séculos, ele vinculou o evangelho ao seu egocentrismo, construindo uma teologia elaborada e preparada, que até hoje reina soberana no mundo acadêmico, onde os pentecostais mal têm condições de ameaçar. Graças a essa doutrina, o livre arbítrio torna-se uma doutrina produzida e poderosa.

No fundo, a doutrina da eleição sempre foi a ideia do eu especial, gerando uma teologia imensa e gigantesca. Nós, ocidentais, carregamos essa ideia de sermos especiais, com um Deus exclusivo para cada um de nós.

Esse egocentrismo afundou a espiritualidade do Ocidente ao criar um Deus que nos coloca acima dos outros. Essa doutrina arrasta o livre arbítrio, mas para compreender verdadeiramente, é necessário encapsular e compreender a essência primária do karma.

Torna-se desafiador separar e analisar ideias como eleição, predestinação, livre arbítrio e destino, pois são interligadas. Todos os calvinistas e teólogos dessa corrente, ou mesmo outros pensadores, associam esses conceitos à pessoa de Deus e Sua onipotência.

No entanto, no pensamento oriental, essa conexão não existe, pois o Deus Panteísta ou Monista não se manifesta de maneira pessoal em defesa individual e salvífica.

Assim, esses termos estão intrinsecamente ligados ao Deus ocidental, e essa discussão perde sentido quando vista à luz de bilhões de pessoas que nunca adotaram ou seguirão a fé cristã, uma realidade que cresce expressivamente no Brasil.

Vamos agora à ilustração com nosso conto.

Passeio do Destino: Encontros Místicos com Profecias Sombrias.

Para nos ambientarmos, chamarei você de Lúmen Sapiens, que significa ser esclarecido, e te conduzirei por uma aventura.

Acompanhe-me, imagine-se em uma tão esperada jornada pelo Oriente Médio.

Durante o percurso de ônibus entre dois pontos turísticos, surge a necessidade de pernoitar na histórica cidade outrora conhecida como Edessa, situada na Mesopotâmia e hoje chamada Şanlıurfa, na Turquia.

Essa cidade ruralista herdou seu nome dos tempos em que o discípulo de Jesus, Tomé, residira e registrou suas palavras em seu evangelho.

Sem muitas opções na pequena cidade secular, instalado em um modesto hotel, você decide sair à noite para explorar suas ruas sob um céu límpido e estrelado.

Desapercebido, caminha sem rumo e adentra o deserto, onde a areia é arrastada pelo vento noturno, criando um cenário frio e nebuloso.

Após alguns momentos, avista uma elevação de areia ao longe, uma pequena duna de onde se pode contemplar o infinito deserto, adornado com rochas distantes iluminadas pela lua.

Nesse cenário surreal, a cerca de 30 metros de distância, percebe uma figura perturbadora ao fixar seus olhos.

Trata-se de um senhor idoso, imponente, ereto, careca e com um belo cavanhaque branco como a neve, com semblante sério e imutável como as rochas que enfeitam o deserto. Ele parece mais fazer parte do cenário do que ser um ser real.

Decide então se aproximar e iniciar uma conversa, movido pela falta de planos definidos e pela curiosidade.

O ser se apresenta como Aquila, um mestre ocultista, e em poucos minutos de diálogo, revela algo surpreendente:

“Meu amigo, nos próximos dias, enfrentarás teu destino e os seres que o regem. Uma doença te torturará literalmente por alguns anos, sem que encontres sua origem ou como vencê-la.

Nesse tempo de dor, o desespero te fará desejar a morte diversas vezes devido à intensidade desse sofrimento. No entanto, saiba que isso moldará teu caminho, seja para o aprendizado ou para a decisão de enfrentá-lo ou desfalecer, ou dele não retirar nada.

Tuas escolhas definirão o curso, não apenas o destino. Atualmente, vives como se o amanhã não existisse, sem perceber o propósito de tua encarnação neste mundo.

Teu destino não é uma escolha, e testemunharás eventos que te moldarão.

Alguns seres usarão tua dor para que compreendas isso, e outros vão te incitar a retirar a própria vida; o sofrimento é uma das armas do senhor do destino, que mexerá com tuas estruturas para guiá-lo, e somente assim perceberás tua origem e teu papel aqui.

Isso abrirá escolhas para ti, apesar de acreditar ter livre arbítrio. No entanto, esse livre arbítrio que vives nesse atual tempo é ilusório, baseado em teu egocentrismo fútil.

Ficando imerso nessas palavras, parece que te encontras em outro mundo e tempo. Ao retornar à realidade, percebes que o ancião já se afastou.

Só consegues ver suas sombras ao longe, abraçadas pela poeira das areias em um redemoinho que envolve a figura misteriosa daquele mestre, como se ele fosse parte do deserto.

Curvando tua cabeça para refletir e buscar argumentos, percebes que o ancião está longe demais, além do alcance racional.

Mesmo que corras em sua direção, ele está distante, e só conseguirá ouvir os ecos de seus gritos. Essa despedida desconcertante torna-se difícil de compreender.

Determinado, retornas ao hotel, perplexo e envergonhado, consciente de que essa revelação transformará tua existência, ou o resto dela.

Tua viagem de lazer se torna uma aventura mística e inebriante, uma experiência muito mais profunda e desafiadora.

Isso não vai acontecer com você, mas está acontecendo agora.

“Não raro, encontramos nas páginas de um livro a história que julgamos distante, apenas para perceber que ela se desenrola como um capítulo de nossa própria existência.” – Gabriel García Márquez

Assim como o destino te trouxe até mim, agora obscuro e misterioso, este também te levará às tuas dores e crescimento. E para isso, não há livre arbítrio ou escolhas; há apenas a decisão de extrair experiência para tua evolução e conhecimento dessa dor que a vida te aflorará com experiências agora amargas.

Não sei quem és tu, mas algo te guiou até aqui. Reflete e aceita que, embora teu arbítrio tenha sido o guia que te fez emergir desse caminho aparentemente do nada, tudo sempre esteve gravado nas páginas do livro da tua vida.

Cada escolha é como uma pedra lançada num lago, formando ondas que reformulam a própria história. Assim como as ondas da pedra se dissolverá no lago, sua história também se dissolve e se reformula a cada nova página lida.

Se escolhes um caminho incerto e simplesmente viras uma nova página, ela será reformulada, assim como uma pedra que cria ondas no lago. O próprio lago tenta dissolver a pedra em si, assim como sua história se dissolve e se refaz a cada nova escolha.

Isso é o que os orientais chamam de karma, que se subdivide em partes. Assim, não há escolha ou teria sido uma escolha tu teres encarnado quando podias evitar nascer; se o fosse, ninguém desejaria estar aqui.

” – Eu sou o mestre Aquila, o mestre ocultista, encerrando o encontro com uma sabedoria que ecoava no vazio do deserto, convidando-te a refletir não apenas sobre esse enigma, mas sobre muitos outros que desvendarei a ti.

Você nasceu inúmeras vezes, mas esse nome jamais surgiu para ti.

“Platão, o filósofo místico, nos sussurra: ‘Em corpos diferentes, a alma eterna dança sua jornada infinita na busca do conhecimento, guiada pela metempsicose.”

“Pitágoras e seus seguidores ensinavam que a alma é imortal e que, após um certo número de anos, ela entra em um novo corpo (Metempsicose).” – Jâmblico

“Desperte: a metempsicose revela a prisão em corpos, mas a libertação eterna na gnose (γνῶσις).”-Mestre Aquila

É como se estivéssemos ligados pela eternidade, sem nunca termos escolhido nossos próprios nomes ou nossos pais. Nesse ciclo interminável de encarnações neste planeta, há algo que você nunca teve a oportunidade de escolher.

Se tivesse tal poder, inúmeras vidas antes, teria moldado o próprio destino, talvez optando por não mais reencarnar.

Nesse contexto, fica claro que a ideia de livre arbítrio é limitada, restringindo-se às circunstâncias e às escolhas que nos são apresentadas ao longo desse intricado caminho da existência.

Saiba que o cristianismo enxerga e reflete sobre o livre arbítrio, eleição e predestinação, fundamentado em um Deus monoteísta e uma única vida.

Em contraste, as filosofias orientais, com sua visão monista, contemplam incontáveis vidas, onde a predestinação e eleição são compreendidas à luz do karma e suas subdivisões.

“A reencarnação é a jornada da alma, uma série de oportunidades para a expansão espiritual e a realização do verdadeiro eu.”- Swami Vivekananda

Nesse contexto, torna-se difícil aplicar conceitos de predestinação e eleição desvinculados do karma, pois as escolhas e destinos estão intrinsecamente ligados a esse princípio oriental.

Serei mais claro: após a Reforma Protestante, desencadeou-se uma guerra religiosa cristã ocidental, na qual os reformadores, muitos dos quais perderam a vida e participaram de conflitos armados contra os católicos, estabeleceram dogmas e doutrinas.

Uma dessas doutrinas foi a da predestinação e eleição, fundamentada em textos interpretados durante a Idade Média, mas escritos há cerca de 1800 anos.

Os reformadores criaram seus dogmas, que persistem até hoje, debatendo dentro de suas próprias interpretações sem questionar como era, de fato, a eleição para os originais que escreveram os textos.

Assim, o livre arbítrio torna-se não apenas uma ideia isolada, mas sim uma teologia inteira, fundamentada em predestinação e eleição. Isso pode parecer absurdo, mas é o que permanece no cenário teológico

A base de toda discussão é que a ideia de livre arbítrio é exclusiva do Ocidente, especialmente na tradição cristã.

Isso se deve às guerras religiosas e intermináveis discussões teológicas moldadas por interesses pessoais. No Oriente, essa discussão não tem tanta relevância, e veremos porquê adiante.

A compreensão do karma, não deve ser vista em suas divisões, mas como um todo unificado, nos conduz à noção de um destino compartilhado, transcendentemente conectado a cada escolha e ação, um eco da mesma essência que o destino ocidental busca compreender.

“Karma transcende o tempo, unificando vidas passadas, do presente e a que virá do futuro numa dança cósmica, onde cada movimento de escolhas dá forma final ao destino.” – Mestre Aquila

É por conta do entendimento do karma, algo que apenas um indivíduo nascido na tradição hindu consegue compreender.

É uma ideia que sugere que, por mais que os ocidentais tentem estudar, se perde na mente, pois deveríamos ser criados e viver dentro de um conjunto de ideias e conceitos, em vez de apenas procurar e interpretar pressupostos como um quebra-cabeças de forma ocidental, onde nossa razão quer entender tudo individualmente, separadamente, e assim tentamos entender o karma.

Sendo assim, estudamos a ideia do karma, dividindo em categorias.

Aqui estão algumas categorias gerais que podem ser consideradas em algumas tradições:

Sanchita Karma: O karma acumulado ao longo de várias vidas.

Prarabdha Karma: O karma que está ativo nesta vida atual.

Kriyamana Karma: O karma que é criado no presente através das ações atuais.

Agami Karma: O karma resultante das ações atuais que terá impacto nas vidas futuras.

Nitya Karma: Ações diárias ou rituais que são realizados regularmente.

Naimittika Karma: Ações específicas realizadas em circunstâncias especiais.

Essas categorias são mais comuns em filosofias e tradições que se aprofundam nas complexidades do karma, como o Vedanta e algumas escolas de pensamento do hinduísmo.

No entanto, mesmo quando nos deparamos com o pressuposto do karma de vidas passadas, esse karma não é único, mesmo que aja em vidas anteriores.

“Lembranças sutis de karmas passados dançam no fluxo do tempo, como sombras que ecoam a dança eterna das almas.” – Rabindranath Tagore

Isso ocorre por conta da ideia errada que temos de reencarnação, que foi moldada e deturpada pelos kardecistas. Daí se torna impossível aliar o karma, sendo que, para o indiano, só se identifica com conceitos que Platão traz de lá, como a metempsicose.

Assim, poderemos entender o karma e não como queremos fazer, como fazemos se torna impossível. Devemos entender que somos uma alma, e para ela, não existem tempo ou espaço.

Como dizem os filósofos, não existe passado ou futuro. Não pense literalmente, mas entenda o karma primeiro. Entenda a metempsicose.

Mas pense no Karma como um único bloco, que, se separadamente, não forma uma compreensão única.

Daí a dificuldade surreal em ter uma noção clara do karma e do livre arbítrio para os ocidentais, que têm uma abordagem meticulosa e querem ver racionalidade em tudo.

Com essa mente, no entanto, não é possível enxergar além do infinito, e o karma é uma manifestação do infinito. Ele guarda relação com a Cabala indiana; acima, você viu a árvore da vida indiana, enquanto a nossa seria a cristã.

Mas para entendê-lo, precisamos primeiro compreender a metempsicose grega e a gnose, e somente então podemos vislumbrar essa complexa rede de crenças.

Na Idade Média, quando os textos védicos hindus e eram introduzidos no Ocidente, a Europa enfrentou um turbilhão de ideias. Místicos como Blavatsky e Eliphas Levi, entre outros, tentaram trazer a ideia de karma e entendimento para o cenário ocidental.

A discussão calvinista estava em pleno vapor, contra a ideia de eleição de um Deus teísta aberto católico, causando um impacto que resultou em influências contínuas até hoje.

A mente ocidental, devido aos seus escritos e tradições, mesmo dentro das leis e códigos dos países ocidentais, continua imersa na teologia. Essa luta perdura hoje nas atuais igrejas.

Em Brasília, neste momento, há cerca de 5000 templos, provenientes de diversas fontes de heresias, todos divididos e brigando sobre temas como eleição, predestinação, livre arbítrio, moldados pelos moldes do mundo medieval.

Essa disputa se reflete nas várias denominações evangélicas, que, ao invés de se unirem, muitas vezes brigam entre si.

Imagine se essas divergências chegassem às ruas, resultando em conflitos que poderiam levar à violência e, em última instância, afetar a população. Por isso, na vida, nunca duvide: as crenças profundas moldam ações intensas.

Pare de pensar, esse é o erro ocidental de que o destino só está presente nesta vida, assim como o karma, ele abarca todas as incontáveis vidas. Essa vida agora é resultado e, como tal, o destino também abarca incontáveis vidas e egos que a alma viveu.

“Todas as vidas que viveu criam seu destino nesta e em outras vidas que viverá.”-Mestre Aquila

Entrelaçando o Destino: Karma, Livre Arbítrio e Eleições Fazem Parte do Mesmo Pacote.

“Em cada ato, o karma e o destino entrelaçam-se como fios de um tecido cósmico, revelando que somos, ao mesmo tempo, artesãos e produtos de nossas próprias jornadas.” – Hermann Hesse

Dividir ou conciliar o livre arbítrio com a eleição calvinista é quase impossível, daí a confusão na mente das pessoas ao se definirem se acreditam ou não nessa ideia.

A mensagem foi imposta por séculos nos livros, contos, pensadores, filmes e toda a cultura medieval alemã, uma pura expressão da teologia calvinista que influenciou e moldou os Estados Unidos.

Mesmo com todo o movimento pentecostal, não teve o poder de varrer a ideia de livre arbítrio ou eleição calvinista para debaixo do tapete. Por isso, persiste tamanha confusão.

Para os cristãos, seja calvinista (reformador) ou arminiano (pentecostal), a base está na doutrina da graça, em que Deus escolhe os eleitos para a salvação.

Isso difere da visão oriental, principalmente hindu, onde os textos védicos destacam que a conquista ocorre pela entrega completa do corpo, alma e dedicação incondicional à busca do conhecimento racional e transcendental, sendo para eles o yoga, enquanto para os ocidentais é a gnose.

Essa ideia ecoa nos primeiros e verdadeiros cristãos, não na anomalia que se intitula cristã, mas para os gnósticos, que se baseiam no conhecimento da gnose.

Eles não compartilham a visão moderna e superficial da eleição, mas enfatizam a conquista, a busca e o receber por merecer, em oposição à doutrina infantil e vulgar da graça, criada pela igreja, que é preguiçosa.

Entender do que tenho tratado aqui pode parecer complicado, mas saibam que a busca pelo conhecimento e a entrega aos estudos esclarecerão muitos aspectos deste artigo.

Se algo passou despercebido devido ao seu conhecimento, uma revisão minuciosa e uma mente aberta podem revelar muito sobre os temas de eleição, predestinação, livre arbítrio e destino.

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Aquila

Mestre cabalista cristão, cientista (exegeta) de línguas mortas. Neste blog, utilizando o grego koiné, desmembrarei textos apócrifos e ortodoxos cristãos, e também farei uso do sânscrito para explorar textos védicos, como por exemplo a Bhagavad Gita. Prepare-se para uma jornada que desafia sua mente e remodela sua estrutura de conhecimento em relação às crenças limitantes.